Uma Princesa Brasileira
Por Gilmar Moreira Gonçalves
No dia 13 de maio de 1888, uma senhora de 41 anos assinava um dos documentos mais importantes da História do Brasil - a Lei Áurea, que dava liberdade a todos os escravos. Por detrás de sua assinatura havia o clamor de diversas pessoas, que lutaram junto com ela para que tal lei fosse implantada. Através deste ato, seu nome ficaria definitivamente na História. Mas quem era essa mulher que governou o Brasil por três vezes numa época em que os homens dominavam a política?
Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon nasceu no Palácio de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, em 29 de julho de 1846. Filha do imperador Pedro II e de Teresa Cristina, terceira imperatriz do Brasil, e se tornou herdeira do trono após o precoce falecimento de seus irmãos Afonso e Pedro. Na condição de princesa imperial, título que cabia aos herdeiros do trono de acordo com a constituição do Império, a princesa Isabel cresceu em um lar muito saudável, onde imperava o respeito mútuo entre os pais. “Cara Teresa espero que tenhas passado bem, assim como as pequenas que, graças a Deus, sei que gozam de saúde, e a quem darás dois beijinhos de minha parte.
Adeus e um abraço bem apertado de seu afeiçoado esposo. Pedro”
Vida de princesa
Junto com sua irmã Leopoldina Teresa Francisca Carolina Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga, a jovem princesa recebeu educação condizente com sua condição de herdeira do Império. Para se ter uma idéia de sua exaustiva maratona educacional, basta observarmos seu programa de férias em Petrópolis, descrito por seu pai:
“Assisto às lições de Sapucaí, de inglês e de alemão, dadas às minhas filhas. Nas segundas-feiras lerei a elas Barros, das 7h30 às 8 da noite; terças, Lusíadas, das 10h 30 às 11 da manhã; das 3 às 4, dar-lhes-ei lições de matemática, e latim das 7h30 às 8 das noite. Domingos e dias santos, leitura de Lucena durante uma hora, e meia hora de leitura do Jardim das Raízes Gregas, à noite.”
Mais tarde, em sua primeira visita à Europa, já casada, Isabel Cristina escrevia ao pai para agradecer a educação recebida. “Oh! Quanto lhe agradeci no meu interior de me ter ensinado e de me ter dado mestres de modo que agora compreendo a maior parte das coisas que vejo, ainda que ignore muito”.
Entre seus mestres estavam a Condessa do Barral, por quem manteria afinidade e admiração por toda a vida.
As diversões das princesas ficavam por conta de jogos de salão e representações teatrais no próprio palácio. Eram as “festas das meninas”, de que estavam excluídos políticos e meninos. As princesas viam transcorrer sua juventude, entre aulas de latim, alemão, botânica, mitologia, história sagrada, matemática, além de leitura dos evangelhos aos sábados.
Ao longo dos anos, Isabel passava por todas as etapas e solenidades comuns aos herdeiros presuntivos do trono. Para se criar o consenso de que poderia assumir com naturalidade sua função, repetiam-se os cerimoniais e atos públicos pelos quais seu pai e outros haviam passado. Aos 14 anos de idade prestou juramento à Constituição Política do Império, como herdeira presuntiva do trono diante das Câmaras.
Os príncipes consortes
Como únicas herdeiras de D. Pedro II, as princesas precisavam se casar para assegurar logo a descendência imperial. Para isso, D. Pedro pediu ajuda a parentes que viviam na Europa: suas irmãs Januária e Francisca, o cunhado D. Fernando, viúvo de sua irmã Maria II, rainha de Portugal, e a madrasta D. Amélia. Primeiramente pensou-se no jovem Duque de Penthièvre, filho de D. Francisca. Mas a escolha caiu sobre dois sobrinhos dela, Luís Augusto de Saxe-Coburgo Gotha (1845-1907), o Duque de Saxe, e Gastão de Orléans, o Conde d’Eu. Ambos netos de Luís Filipe (1773-1850), rei da França.
A intenção do imperador era casar Isabel com Augusto e Leopoldina com Gastão. No entanto, contrariando um costume da época, as princesas puderam escolher seus noivos. “A 2 de dezembro de 1864 chegaram ao Rio o Conde d’Eu e o Duque de Saxe. Meu pai pensava no conde d’Eu para minha irmã e no Duque de Saxe para mim. Deus e os nossos corações decidiram diferente”, escrevia Isabel. Em carta à irmã Margarida, o Conde d’Eu dava conta de suas preferências:
“Isabel é mais simpática, mais alta. Mas as duas são ladies.”
Em um mês resolveram-se todas as formalidades e a princesa unira-se a seu príncipe que estaria a seu lado por toda a vida. O casal passou a residir no bairro carioca das Laranjeiras, no atual palácio Guanabara, e em Petrópolis.
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