domingo, 28 de outubro de 2007

Ano de 1492

O ano de 1492 é uma linha divisória na história da Espanha: início da época aura da política da Nação e também o momento de um dos piores excessos de intolerância. Naquele ano, o 23o. do casamento de Ferdinando e Isabella, as forças cristãs conquistaram Granada para unificar toda a Espanha como um único reinado, embora as custas dos judeus e muçulmanos, que não abraçaram o cristianismo e foram expulsos do país.
Cristóvão Colombo, sob o patrocínio de Isabella, ancorou nas Américas naquele mesmo ano, iniciando assim a era das descobertas. Mas a partida dos cultos muçulmanos e judeus foi um impacto para a economia da nação, do qual nunca se recuperou; a Inquisição estabelecida em 1478 feriu ainda mais aqueles que escolheram ficar.
As terras do Novo Mundo enriqueceram bastante a Espanha, mas os grandes embarques de ouro mexicano e peruano produziram, mais tarde, uma terrível inflação. Os chamados monarcas católicos e seus sucessores mantiveram a união da Espanha, mas sacrificaram o espírito do comércio livre entre as nações, que começava a trazer prosperidade capitalista aos países europeus.
Ferdinand e Isabella foram sucedidos pelo neto Carlos, que se tornou o primeiro Habsburg espanhol e um dos governantes mais poderosos da história. Sob seu controle, Córtes chegou ao México e Pizzaro, conquistou o Peru. Também herdou a Áustria e os Países Baixos; em 1519, com três anos de reinado, foi eleito Imperador Espiritual Romano (Carlos V), e em pouco tempo anexou Nápoles e Milão.
Conquistou a Contra-Reforma e a Ordem Jesuíta foi criada para ajudar a defender o Catolicismo do Protecionismo Europeu. Mas, Carlos custou muito à nação em função de sua propensão à guerra, principalmente contra os luteranos alemães e turcos. Seu filho Felipe II seguiu o mesmo e caro caminho. Derrotou os turcos e ordenou a construção do escorial, um sombrio mosteiro fora de Madri. Foi lá que morreu, 10 anos mais tarde, depois de ter perdido sua Armada num ataque à Inglaterra Protestante.

A Guerra da sucessão espanhola foi inflamada pela morte sem razão de Carlos II, o último Habsburg espanhol em 1700. Felipe de Anjou foi coroado Felipe V e iniciou a linha de Bourbon (que segue até hoje).
Os Bourbons daquela época eram afrancesados, copiaram muitas das atitudes e modelos dos vizinhos do norte. Mas a paixão terminou em 1808, com a colocação de Napoleão no lugar de seu irmão Jose Bonaparte, jocosamente chamado “Pepe Botella”, devido ao seu gosto pela bebida. Bonaparte foi bastante desprezado e em 1808 uma revolta em Madri, registrada de maneira angustiante por Francisco Goya y Lucientes (1746 – 1828) começou a Guerra da Independência, conhecida pelos estrangeiros como Guerra peninsular. A Grã-Bretanha, do lado da Espanha, enviou o duque de Welligton para o resgate. Com a ajuda de guerrilhas espanholas, os franceses foram finalmente expulsos, mas antes disso atacaram as principais igrejas e catedrais da Espanha. A maioria das colônias americanas da Espanha aproveitaram a oportunidade para proclamar sua independência.
O restante do século não foi feliz, os regimes conservadores atacaram com guerras civis e revoltas inspiradas por correntes republicanas da Europa. A surpresa final veio com a perda de Cuba, Porto Rico e Filipinas em 1898, num desastre militar que, ironicamente, inspirou uma impressionante literatura renascentista, a então chamada geração 98, cujos membros incluíram escritores como Miguel de Unamuro e Pío Baroja e o poeta Antonio Machado. Alfonso XIII veio ao trono em 1902, mas o surgimento do problema civil trouxe o melhor dele e terminou em auto-exílio em 1931. Uma inexperiente república seguiu, para a alegria de muitos espanhóis, mas a eleição do governo da frente popular de esquerda em 1936 provocou a oposição cerrada da direita. No final, um jovem general chamado Francisco franco usou o assassinato de um líder monarquista como desculpa para uma revolta militar.
A Guerra civil (1936 – 1939), foi um dos episódios mais caros e trágicos na história da Espanha. Mais de meio milhão de pessoas morreram no conflito. Intelectuais e esquerdistas do mundo todo simpatizaram com o governo eleito. A brigada Internacional, que incluía voluntários americanos, britânicos e canadenses, tomou parte em algumas das piores lutas, incluindo a defesa de Madri. Mas Franco apoiado pela Igreja católica, obteve mais ajuda da Alemanha nazista que, com sua legião Condor, acabou destruindo a cidade basca de Guerníca e da Itália fascista.
Por três anos os governos europeus permaneceram calados, enquanto os exércitos de franco dominaram Barcelona, Madri e finalmente a última capital da república, Valência.

A Espanha oficialmente neutra durante a Segunda Guerra Mundial, mas simpatizante com os poderes do Eixo, foi evitada pelo mundo até um acordo em 1953, no qual os estados Unidos forneceram ajuda em troca da construção de bases da OTAN. Gradativamente, no final dos anos 60, a estraçalhada economia começou a ganhar vapor. Mas quando Franco anunciou, em 1969, que seu sucessor seria Juan Carlos, o neto de Alfonso XIII, um príncipe cuja educação militar fora rigidamente supervisionada pelo general já idoso, as esperanças de liberdade da nação murcharam. Imaginem a surpresa dos espanhóis quando, seis anos mais tarde, Franco morreu e o jovem monarca revelou-se um fechado democrata. Sob seu estímulo foi adotada uma nova constituição, que restaurava as liberdades civis e a liberdade de expressão. Em 23 de fevereiro de 1981, o rei provou novamente vigor quando um coronel da Guardiã Civil tomou o parlamento e seus membros durante 24 horas. A tentativa de golpe com o objetivo de trazer de volta um governo de direita foi de todo contornada pelo heroísmo do rei que chamou pessoalmente os comandantes militares de todo o país para assegurar sua lealdade ao governo eleito.
Desde 1982 os socialistas tem governado a Espanha, embora uma série de escândalos envolvendo corrupção em 1994 e 1995 tenham ameaçado o poder.

Nas artes há um florescimento notável no primeiro terço do século XX, surgindo Frederico García Lorca, o cineasta Luis Buñnel, os pintores Pablo Picasso, Joan Miro e Salvador Dali. O século terminou com êxito destes artistas, resultando em uma esterilidade nos anos de Franco. Atualmente as artes estão florescendo novamente. O mundo já conhece os artistas espanhóis como o cineasta Pedro Almodóvar, o ator Antonio Banderas e o escritor Camilo José Cela que descreve com sutileza a vida nos anos de Franco, ganhando o Prêmio Nobel em 1989.

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