sexta-feira, 30 de maio de 2008

O Lutador

Lutar com palavras
é a luta mais vã
Entretanto lutamos
mal rompe a manhã.
São muitas ,eu pouco.
Algumas,tão fortes
como um javali.
Não me julgo louco
Se o fosse, teria
poder de encantá-las.
Mas lúcido e frio,
Apareço e tento
apanhar algumas
para meu sustento
num dia de vida.
Deixam-se enlaçar,
tontas á carícia
e súbito fogem
e não há ameaça
e nem há sevícia
que as traga de novo
ao centro da praça.

Insisto, solerte.
Busco persuadi-las.
Ser-lhe-ei escravo.
De rara humildade.
Guardadrei sigilo
de nosso comércio.
Na voz, nenhum travo
de zanga ou desgosto.
Sem me ouvir deslizam,
perpassam levíssimas
e viram-me o rosto.

Lutar com palavras
parece sem fruto.
Não tem carne e sangue...
Entretanto luto.

Palavra,palavra
(digo exasperado),
se me desfias,
aceito o combate.
Quisera possuir-te
neste descampado,
sem roteiro de unha
ou marca de dente
nessa pele clara.
Preferes o amor
de uma posse impura
e que venha o gozo
da maior tortura

Carlos D. de Andrade

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