terça-feira, 30 de dezembro de 2008

A Janela

SENTAR-SE A JANELA

O jovem advogado, certo dia, deu-se conta de como as pequenas coisas são
importantes na vida, e escreveu o seguinte:

Era criança quando, pela primeira vez, entrei em um avião. A ansiedade de
voar era enorme. Eu queria me sentar ao lado da janela de qualquer jeito,
acompanhar o vôo desde o primeiro momento e sentir o avião correndo na pista
cada vez mais rápido até a decolagem. Ao olhar pela janela via, sem
palavras, o avião rompendo as nuvens, chegando ao céu azul. Tudo era
novidade e fantasia.

Cresci, me formei, e comecei a trabalhar. No meu trabalho, desde o início,
voar era uma necessidade constante. As reuniões em outras cidades e a
correria me obrigavam, às vezes, a estar em dois lugares num mesmo dia.

No início pedia sempre poltronas ao lado da janela, e, ainda com olhos de
menino, fitava as nuvens, curtia a viagem, e nem me incomodava de esperar um
pouco mais para sair do avião, pegar a bagagem, coisa e tal.

O tempo foi passando, a correria aumentando, e já não fazia questão de me
sentar à janela, nem mesmo de ver as nuvens, o sol, as cidades abaixo, o mar
ou qualquer paisagem que fosse. Perdi o encanto. Pensava somente em chegar e
sair, me acomodar rápido e sair rápido. As poltronas do corredor agora eram
exigência. Mais fáceis para sair sem ter que esperar ninguém, sempre e
sempre preocupado com a hora, com o compromisso, com tudo, menos com a
viagem, com a paisagem, comigo mesmo.

Por um desses maravilhosos acasos do destino, estava eu louco para voltar de
São Paulo numa tarde chuvosa, precisando chegar em Curitiba o mais rápido
possível. O vôo estava lotado e o único lugar disponível era uma janela, na
última poltrona. Sem pensar concordei de imediato, peguei meu bilhete e fui
para o embarque.

Embarquei no avião, me acomodei na poltrona indicada: a janela. Janela que
há muito eu não via, ou melhor, pela qual já não me preocupava em olhar.

E, num rompante, assim que o avião decolou, lembrei-me da primeira vez que
voara. Senti novamente e estranhamente aquela ansiedade, aquele frio na
barriga. Olhava o avião rompendo as nuvens escuras até que, tendo passado
pela chuva, apareceu o céu. Era de um azul tão lindo como jamais tinha
visto. E também o sol, que brilhava como se tivesse acabado de nascer.
Naquele instante, em que voltei a ser criança, percebi que estava deixando
de viver um pouco a cada viagem em que desprezava aquela vista.

Pensei comigo mesmo: será que em relação às outras coisas da minha vida eu
também não havia deixado de me sentar à janela, como, por exemplo, olhar
pela janela das minhas amizades, do meu casamento, do meu trabalho e
convívio pessoal?

Creio que aos poucos, e mesmo sem perceber, deixamos de olhar pela janela da
nossa vida. A vida também é uma viagem e se não nos sentarmos à janela,
perdemos o que há de melhor: as paisagens, que são nossos amores, alegrias,
tristezas, enfim, tudo o que nos mantém vivos. Se viajarmos somente na
poltrona do corredor, com pressa de chegar, sabe-se lá aonde, perderemos a
oportunidade de apreciar as belezas que a viagem nos oferece. Ademais, pode
ser que ao descer do avião da vida já não encontremos ninguém a nossa
espera.

Pense nisso!



(Francine)

Se você também está num ritmo acelerado, pedindo sempre poltronas do
corredor, para embarcar e desembarcar rápido e ganhar tempo, pare um pouco
e reflita sobre aonde você quer chegar. A aeronave da nossa existência
voa célere e a duração da viagem não é anunciada pelo comandante. Não sabemos
quanto tempo ainda nos resta. Por essa razão, vale a pena sentar próximo
da janela para não perder nenhum detalhe. Afinal, a vida, a
felicidadee a paz são caminhos e não destinos.

Autor desconhecido

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