terça-feira, 21 de julho de 2009

A Consoladora



Nenhum rajá da Índia possuirá, jamais uma comitiva como a daquele rei.
Senhor de minas inesgotavéis, em que brilhavam como o ouro e a prata e rutilavam o diamamnte, o rubi, a safira, o topázio, a esmeralda, uma infinidade em suma de pedras luminosas e estranhas, aquele monarca vivia na opulência,
cumprindo ,na terra ,uma terríval sentença: andar continuamente, eternamente,e sempre, dia e noite, na mesma direção.
Foi para minorar este castigo que ele organizou aquela comitiva sobberba, convidando para a sua companhia todos, os príncipes e princesas do reino vizinho.
A Amizade, a Riqueza, a Mocidade, a Fé, a Esperança, a Coragem , a Alegria, o Prazer, o Amor, o Ódio, a Caridade,
a Ternura, a Tolerância ...tudo isso o acompanhava na sua grande viagem sem têrmo, através de planícies, de cidades, de desertos e de montanhas.
Ao fim de trinta anos de marcha tumultuosa, o suntuoso rei
voltou-se, por um instante, sobre seu cavalo ajaezado, e olhou
para trás.

- Onde ficou a Mocidade? - indagou de seu pagem.
- Morreu meu senhor!
- E o Ódio?
- Ficou atrás, respondeu a mesma voz.
- Ele era jovem e fatigou-se logo

O soberano sorriu e continuou a sua marcha invariável. E a proporção que marchava para o Ocidente, notava que lhe
iam ficando, um a um, os companheiros de ventura.
Um dia era a Coragem, outro o Prazer, outro a Alegria,e assim o foram deixando todos, até que, abandonado pela Esperança, última princesa da comitiva , ele se viu uma tarde sozinho, trôpego, e velho, à margem de um caminho silencioso. O crepusculo polvilhava de cinza o horizonte, e o soberano se pôs a chorar.
- Triste coisa, gemeu: triste coisa é a solidão!
Antes a Morte, por que esta, ao menos, é uma companheira!
Ao levantar o rosto lavado de pranto, viu, porém, que não estava só, como supusera. Diante dele,
fitando-o com uma doçura triste, erguia-se a mais
formosa das princesas que os seus olhos tinham visto.

- Quem és tu? indagou, enxugando as lágimas...
- A companheira dos que não tem companhia...respondeu-lhe a visão. Eu espero por eles sempre, no fim da jornada.
O soberano fitou-a, reconhecido.
Era a Saudade.

Humberto de Campos.

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