Mostrando postagens com marcador brasil. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador brasil. Mostrar todas as postagens

sábado, 2 de agosto de 2008

O Encanto intrinseco do Semestre



'Declaração de renda será semestral'

- estampou espetacularmente o 'Jornal do Brasil' em manchete de primeira página.
Trata-se de notícia que certamante deve ter aumentado os batimentos cardíocos da população, já que publicada assim de forma tão franca e direta, apresentando logo de cara a nudez crua da verdade sem o manto diáfano da fantasia.
Há jornais que levam em consideração o estado cardiológico de seus leitores. Um deles, há alguns anos, percebendo através de pesquisa que a maioria de suas leitoras pertencia á família daquele inocente Velhinho de Taubaté que Luís Fernando Veríssimo popularizou, noticiou assim a explosão da bomba atômica em Hiroxima: "Boatos esparsos e aparentemente infundados, proveniente de cidades historicamente conhecidas como capitais da intriga e da calúnia, com certeza espalhados por fontes indígnas de qualquer crédito, dão conta de remotíssima hipótese de uma improvável explosão causada pelo que seria uma nova arma de composição nuclear. O artefato teria causado ligeiros,estragos nos telhados de algumas residências numa conhecida cidade lá longe no Japão."
Mas um brasileiro médio, ao acordar preocupado com os miseráveis pontos que fez na última Loteria Esportiva, abrindo o Jornal e vendo uma notícia dessas, tem que tomar um Isordil e meditar gravemente sobre o assunto, retirando do devaneio duas perguntas principais. - Primeira: Haverá renda?
Segunda - Haverá semestre? Do jeito que as coisas vão, provavelmente haverá apenas o imposto - principalmente se tais metafísicas questões forem acopladas a preocupação menores, tais como outra manchete da página econômica, avisando que "aumento do BNH será maior que o do salário em 1986"; ou a notícia de que "deputado diz que missão ao FMI voltou sem resultado"; ou "Ministério diz que em cinco anos crédito agrícola cai 55%; ou "golpe no INPS envolve servidores da Dataprev e caixas de seis bancos".
Logo depois de fazer seu teste ergométrico, o brasileiro médio aprende que terá que fazer suas declarações de renda em fevereiro e agosto, a fim de que o Governo possa resolver "seus problemas de caixa". É uma decisão engraçada: o Governo tem problemas de caixa e nós e que temos de fazer duas vezes por ano aquilo que já é uma enorme chateação uma vez só.
Aqueles quadradinhos nunca cabem no espaço da máquina de escrever, e temos que fazer uma ginástica danada mexendo no tabulador a todo instante, para neles colocar tantos algarismos que a inflação reduziu a nada. Sem falar que na cópia do contribuinte, por causa do carbono, a renda líquida frequentemente vai parar no buraquinho destinado aos dependentes, e as despezas com médico e dentista acabam sendo impressos nos redimentos da célula D. Declaração de renda, que é chato, eles querem duas vezes por ano, carnaval que é bom, uma vez só.
Compreende-se o problema de caixa do Governo. Depois da dramática apresentação do verdadeiro estado do miserê nacional, o povo, imaginou, na nossa sacrossanta ingenuidade, que eles fossem fazer economia. Eles preferiram nomear quase 50 mil primos da Dona Carmen em todo o País. E no que diz respeito a generosidade com o nosso dinheiro, manifestaram particular apreço pelo Rio Grande do Sul, dando de presente á brava gaLinkuchada um trilhão de cruzeiros para o Sul-Brasileiro. Resultado: temos que fazer duas declarações por ano. Vender os jatinhos das estatais ninguém pensa.
Com o constante aumento das despesas públicas pode-se imaginar que não haverá mais renda, dentro em breve. Enquanto houver, o Governo deverá no futuro, fazer a declraração trimestral, depois a mensal a semanal, chegando finalmente ao triunfo de exigir declaração diária da renda do cidadão. Pode-se também, pensar em proclamar a escravidão, o que talvez não resolva a questão de Caixa do Governo, mas pelo menos terá o mérito de estabelecer as coisas com mais verdade.

Flávio Rangel

"Jornal do Brasil" - 26.7.1985

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Transferencia da Corte



Transferência da Corte para o Brasil Colônia

A viagem do Príncipe Regente D. João, a corte, e todos aqueles que encontraram lugar em um dos 36 navios, para o Brasil. Talvez um total de 12.000 a 15.000 portugueses.
A decisão sábia deste grande estadista, que foi D. João, teve conseqüências positivas para Portugal, Brasil e Inglaterra. Apenas a França lamentaria o evento.
Ao contrário de outros países invadidos por Napoleão Bonaparte, a sua decisão salvou a própria essência da nação portuguesa, a sua Família Real e Corte ,que sobreviveu incólume, manteve seu reino e até mesmo prosperou em sua rica colônia.
A presença da monarquia portuguesa no Brasil acelerou seu desenvolvimento; uma vez criado o Reino Unido de Portugal, Algarves e Brasil em 1815, a Independência tornar-se-ia inevitável.

A Inglaterra, após vários meses de bloqueio do Tejo, apoiada na Ilha da Madeira, atacaria as tropas francesas em território português e, após derrotá-las, continuaria a guerra até a batalha final em Waterloo. A abertura dos portos,(as nações amigas,quem? Inglaterra é claro) promovida por D. João, logo após a sua chegada em Salvador, traria grandes benefícios.
Devido à falta de documentação, detalhes desta importante viagem, até há pouco tempo, eram totalmente desconhecidos. Agora tudo mudou, foram descobertos no Arquivo Nacional de Londres, os livros de quartos de todos aqueles navios que bloqueavam o Tejo em novembro de 1807 e daqueles que escoltaram a Esquadra portuguesa na sua jornada.
Os livros, escritos a mão muitas vezes debaixo de severas tormentas no mar, refletem o inglês da época e a terminologia única da Marinha britânica. O trabalho de decifrá-los levou cinco anos e, mesmo sendo orientados para os navios britânicos, é praticamente a única documentação com detalhes que sobreviveu.
Em 1807 a França tinha derrotado todos os seus adversários, com exceção da Inglaterra. Esta tinha frustrado a tentativa francesa de invadí-la, pois dominava os mares após a batalha de Trafalgar em 1805.
A 22 de janeiro de 1808, após 54 dias no mar, fundearam em Salvador. O Príncipe Real levava 1.054 pessoas a bordo. A primeira etapa da viagem havia terminado. Alguns dias antes, a 17 de janeiro, os navios que tinham velejado diretamente de S. Tiago entraram no Rio de Janeiro.
Aos poucos, todos os navios foram chegando: o Medusa, bastante avariado, entrou no Recife a 13 de janeiro; o D. João de Castro, avariado e fazendo água, fundeou, no início daquele mês, na Enseada de Lucena (Paraíba).
Enfim, embora severamente castigados pelas sucessivas tormentas de inverno, que causaram avarias consideráveis, todos os navios chegaram ao seu destino. Isto reflete a qualidade dos oficiais e das guarnições, assim como do projeto e da construção dos navios; a experiência de vários séculos navegando regularmente através dos oceanos, em condições de tempo variadas.
O bloqueio continental, introduzido pela França em 1807 como forma de pressionar economicamente a Inglaterra, era quase total; apenas faltava a adesão de Portugal. Em novembro daquele ano, mesmo após ter implantado as medidas exigidas pela França contra seu aliado tradicional a Inglaterra , Portugal encontrava-se sem alternativas, sua fronteira terrestre estava invadida pela França e pela Espanha, que marchavam rumo a Lisboa. Em retaliação às medidas tomadas contra os seus súditos, um esquadrão britânico, sob o comando de sir William Sidney Smith, mantinha o Tejo sob bloqueio.
França e Espanha tinham, a 27 de outubro, assinado o tratado de Fontainebleau; Portugal deveria ser repartido em três e entregue aos invasores. A gota d'água, foi a entrevista com Bonaparte publicada no Le Moniteur de 11 de novembro, na qual, Bonaparte deixava claro o que iria acontecer com a Família Real de Portugal, quando suas tropas lá chegassem. O jornal chegou às mãos de D. João, vindo da Inglaterra no Navio de Sua Magestade Plantagenet, a 24 de novembro.
O Conselho de Estado, presidido pelo Príncipe Regente, a 24 novembro tomou a decisão de partir para o Brasil. A inteligência de D. João revelava-se mais uma vez; os navios da Esquadra estavam todos prontos. Durante os seis meses anteriores, a viagem tinha sido organizada, sem levantar suspeitas junto a França ou Espanha. Outro trunfo era o convênio que tinha sido assinado, a 22 de outubro. A nação que dominava os mares (Inglaterra) escoltaria a Esquadra portuguesa na sua jornada.
A 7 de março de 1808, entre salvas dos fortes e embarcações, chegaram ao Rio de Janeiro.