segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Os Guaranis

Os Guaranis: Ontem, Hoje e Amanhã

Eles eram, conforme alguns autores, em torno de quatro milhões de pessoas, no início da invasão européia ao Continente, em 1492. Ocupavam especialmente a região de mata úmida dos rios da Bacia Platina, tendo chegado até a Bacia Amazônica.
Hoje são 150 mil guaranis, divididos em vários subgrupos, dos quais podemos destacar: Mbyá, Nhandeva (Avá), Kaiowá (Pai Tavyterã), Guaraios (Bolívia), Ache (Paraguai). As comunidades guaranis estão distribuídas em aproximadamente quatrocentas aldeias em três países da América do Sul. Eles se constituem em um dos povos de maior presença em termos de extensão territorial no continente sul-americano. Os grupos guaranis possuem diferenciações sócio-culturais expressivas, o que por vezes sugere que se trata de diversos povos. No entanto, eles possuem unidades agregadoras, a partir das quais as famílias extensas se articulam, mantendo uma base de autonomia, porém com intensa intercomunicação e grande mobilidade, especialmente os Mbyá.
Apesar de presentes num território tão extenso, os Guaranis vivem em pequenas extensões de terra, com áreas que normalmente variam entre 5 a 500 hectares. No Brasil, somente nas últimas décadas é que foram definidas terras de tamanho um pouco maior, estando a maioria ainda em processo de regularização e em grande parte ocupada por invasores. Em nosso País são mais de 150 pedaços de terras Guarani a serem ainda regularizados. No Paraguai também existe um sério problema, pois a maioria das terras em poder dos índios foram compradas por instituições e pelo próprio governo. Na Argentina, na província de Missiones, onde a cobertura florestal ainda atinge mais de 50% do território, também há muita pressão e atuação da indústria madeireira. No Brasil e no Paraguai está em curso um crescente investimento no agronegócio, vastas áreas utilizadas para monocultura, especialmente o plantio de soja. E este investimento atravessa fronteiras, tendo os proprietários de um país facilidades para investir no país vizinho, atingindo também inúmeras comunidades e aldeias guaranis. Na Bolívia, a realidade do agronegócio é agravada pela falta da demarcação das terras indígenas. As áreas são exploradas por empresas multinacionais,que obtém lucros astronômicos na exploração de seus recursos naturais e dos minérios nelas existentes.
Ao destacar as injustiças e violências cometidas contra os povos indígenas, em especial contra os Guaranis, pretendemos dizer que é a nossa sociedade que precisa aprender a respeitar e a valorizar os povos diferentes. Ao longo de nossa história, as políticas oficiais colocadas em curso visaram sempre ao extermínio ou à integração dos povos indígenas, traduzidas em estratégias para desestruturar e desagregar os povos e culturas, permitindo a ocupação e exploração de seus territórios. Olhando para esta história, não podemos deixar de destacar a luta e a resistência que marca a trajetória indígena em nosso continente e em nosso país, resistência que tem assegurado a vida e os projetos de futuro dos diferentes povos. A história dos Guaranis está repleta de momentos e estratégias diversas de resistência e defesa de seu modo de ser (teko) e seus espaços de vida (tekoha). Destes momentos, destacamos a resistência guerreira de Sepé Tiaraju, que morava na missão de São Miguel, no Rio Grande do Sul. Apesar das ambigüidades e contradições daqueles tempos coloniais, Sepé tornou-se uma referência heróica para o povo Guarani e para os pobres em determinadas regiões do Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina.

A partir da memória de um herói da resistência Guarani - Sepé Tiaraju -, é possível refletir sobre a história de resistência e luta desses povos pelos seus projetos de vida e pelos seus territórios. Basta lembrar os milhares de heróis indígenas que lutaram e tombaram pelas suas terras. Vamos nos juntar às lutas de tantos povos indígenas, negros e milhões de excluídos e sem terra que fizeram e fazem hoje a luta avançar na perspectiva de construção de um novo projeto para o país, para as Américas, Ameríndia, Abya Yala, Pacha Mama, mãe de todos os povos deste continente. E vamos mais uma vez nos deixar inspirar pelo povo Guarani, que em cinco países, e em mais de dez Estados do Brasil, constituem hoje uma importante referência e contribuição na construção de uma nova realidade social, política e cultural na América do Sul. Sepé será nosso guia, Tiaraju nossa luz e a luta e vida Guarani nosso caminho árduo e promissor na construção da Terra Sem Males.

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