terça-feira, 13 de novembro de 2007

Educar o portador de diabetes

Como toda doença crônica, o diabetes, logo que é diagnosticado traz uma idéia desoladora de uma doença incurável, debilitante e restritiva. Não é raro atendermos pacientes inconformados com o diagnóstico e perdidos quanto às mudanças que ocorrerão em seus hábitos de vida, em suas expectativas futuras e em sua capacidade de gestão da própria doença. Toda essa insegurança se deve ao desconhecimento da doença e à inexistência de equipes habilitadas e preparadas para educá-los, visando o autocontrole do diabetes.

Geralmente, estes pacientes têm um médico assistente que os orienta e prescreve os medicamentos. Alguns deles contam até com um nutricionista habilitado a traçar um plano nutricional adequado. Mas isso ainda está muito longe do que ele realmente precisa. Saber da necessidade de exames oftalmológicos anuais é muito aquém de entender como evitar a perda da visão; receber um cardápio é muito pouco para saber como comer fora de casa, nas festas e em situações especiais; ingerir um doce na iminência de hipoglicemia, não lhe dá compreensão de como evitar estas situações.

A idéia de educar em diabetes surgiu na década de 70, nos Estados Unidos, quando foi criado o primeiro centro de educação em diabetes. Uma equipe formada por um médico, um nutricionista e um enfermeiro oferecia um guia educacional individualizado para orientar as pessoas com diabetes a fazer o controle da doença e a tomar decisões sobre o seu tratamento. Esse modelo educacional foi incorporado pelo International Diabetes Center (IDC), em Mineapolis, e desde então vem sofrendo modificações no sentido de tornar-se não apenas eficiente para promover educação em diabetes, mas também para garantir que essa seja eficaz e completa, capaz de influenciar favoravelmente o tratamento da doença.

Nos Estados Unidos, já existe uma associação de classe que representa e regula a atividade profissional do educador em diabetes. No Brasil, não registramos a profissão, mas já contamos com alguns cursos para a formação do educador em diabetes. Em 2003, registramos o I Curso de Educadores em Diabetes da International Diabetes Federation. Hoje, algumas empresas já contam com esse profissional em seu quadro de colaboradores. Em junho deste ano, aconteceu a 1º Oficina de Trabalho sobre Educação em Diabetes, em Brasília. Seu objetivo foi discutir, propor ações e elaborar um documento, com base em experiências nacionais e latino-americanas, para um modelo de educação em saúde voltado às pessoas portadoras de diabetes. A iniciativa da Associação de Diabetes Juvenil - em parceria com a Organização Pan-americana da Saúde, a Federação Internacional de Diabetes e a Rede Nacional de Pessoas com Diabetes – contou com o apoio do Ministério da Saúde.

O que pode ser ensinado?

Os programas de educação em diabetes geralmente se baseiam em um modelo proposto pela equipe do IDC e contam com material de apoio didático, como apostilas e livros, além de aulas com temas e períodos pré-estabelecidos. Os temas abordados focam:

(1) Uma visão geral do diabetes;
(2) Contagem de carboidratos;
(3) Importância dos exercícios físicos;
(4) Automonitoramento das glicemias em casa;
(5) Hipoglicemia;
(6) Hiperglicemia;
(7) Doenças intercorrentes;
(8) Refeições fora de casa;
(9) Consumo de álcool;
(10) Evolução natural do diabetes;
(11) Complicações do diabetes;
(12) Cuidados com os pés;
(13) Cuidados com o coração;
(14) Necessidade de acompanhamento contínuo;
(15) Como lidar com o estresse;
(16) Como lidar com a depressão;
(17) Dia-a-dia do diabetes.

Os programas de educação em diabetes podem ser aplicados, individualmente ou em grupos, com resultados semelhantes e muito promissores, tais como a redução significativa dos marcadores de controle metabólico (como a HbA1c) e, inclusive, com redução do peso dos pacientes, mesmo sem ser este o objetivo do programa, revelando assim que um maior conhecimento da doença possibilita a implementação de um tratamento ideal.

Considerando todos estes benefícios é desejável que iniciativas neste sentido, públicas e privadas, possam ser implementadas no Brasil, com a participação das entidades que representam os pacientes diabéticos, no sentido de viabilizarem a regulamentação da profissão do educador em diabetes, para que os pacientes possam se beneficiar dessa importante ferramenta no controle da doença.

Ellen Simone Paiva
Médica Especializada em Endocrinologia e Nutrologia e diretora clínica do CITEN - Centro Integrado de Terapia Nutricional.

www.citen.com.br

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