segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Sobre Monges e Bonsais


Ko Hung

Cerca de um século antes de nossa era, nascia o maior dos mestres taoístas. Seu nome verdadeiro era Ko Hung. Ao tempo em que vivia, bandos armados afundavam o Imperio na anarquia. Descendente de família confuncionista , e tendo-se dedicado ao estudo desde criança , ele acumulou conhecimentos que lhe granjearam
respeito universal.
No reinado, do imperador Hui Ti - Ko Hung foi enviado com a missão de suprimir uma rebelião, sendo prática civilizadas das autoridades chinesas daquela época -
encarregar os literatos para tais tarefas (já que se comportavam com superior inteligência e simpatia). A campanha teve completo êxito, mas Ko Hung desgostou-se
tanto dos assuntos públicos que por sua vontade decidiu fugir ás ilusões do mundo encerrando-se no campo .
Após vaguear por vários anos, absorveu-se no cultivo do Caminho .Morreu aos 80
anos, sua compleição ainda era sólida, seu corpo cheio de mocidade.
A Arte Bonsai teve sua origem religiosa: o homem necessitava encontrar uma proteção contra as influências nefastas que atormentavam sua existência, sobretudo porque ele mesmo quebrava a harmonia da natureza, a coesão entre os princípios do “Yin” e do “Yang.
Quando o sistema de símbolos era respeitado, podia garantir-se o equilíbrio entre a luz e a escuridão, umidade e a seca ,o alto e o baixo , o reto e o curvo,fealdade e beleza ,erguer-se e cair,o forte e o fraco , assim, o resto da antinomia cumpria reciprocamente suas funções.
Plantas resistentes quebram-se ou são arrancadas; as flexíveis resistem. Isso
é aprender a viver com a natureza.
Para o povo chinês, o homem e a natureza formavam uma harmoniosa unidade. Como uma conseqüência desta concepção, apareceu a idéia de expressar o grande por meio do pequeno, de projetar o macrocosmo no microcosmo. No decorrer dos séculos, este foi o objeto primordial de vários domínios artísticos, tais como a pintura, a caligrafia, a poesia, as paisagens em miniatura, árvore ou paisagem, representava uma concentração de forças mágicas protetoras, consideradas verdadeiros talismãs.
A mística taoística, rica em visões de promessas, atraiu a favor do povo chinês e reuniu adeptos. O taoísmo marcou profundamente a visão estética dos chineses; as miniaturas se converteram em um meio de regeneração de forças, em um caminho que prolongava a vida e traria a imortalidade.
O segredo da sapiência, que é também imortalidade é a aceitação; daí a recomendação
que os homens se comportem como recém-nascidos, que acolham os fatos como são.
Forçar o avanço natural das coisas é invocar a dor e a ruína, acompanhar seu passo é ganhar paz e sabedoria. Sem fealdade não pode haver beleza; sem o mal
o bem; sem a morte a vida.
A alternância é essencial a existência .
Os monges taoístas desempenharam um papel muito importante no desenvolvimento do bonsai.
Como tinham uma especial obsessão pela imortalidade, recorriam aos vales e despenhadeiros mais abruptos, buscando o elixir da vida. Voltavam destas expedições carregados de plantas e rochas, pois todos os fenômenos da natureza, por sua força vital, representavam o poder e a eternidade; eram o veículo que os conduzia à meditação, durante essas viagens, os monges observaram que algumas árvores, de tamanho reduzido, mostravam sinais de terem vivido muitos anos, de terem lutado contra todas as inclemências do tempo e, apesar do meio hostil no qual se desenvolviam, reverdeciam a cada primavera. Cada broto, cada flor era um canto de vitória contra a morte,os monges começaram a recolhê-las para continuar sua vida em um recipiente. Por seu valor religioso, ligado à meditação, as depositaram nas escadarias dos templos.
"Um cavalheiro da província de Sichuan, trabalhou durante vários anos como secretário das autoridades militares responsáveis pela região de Yang-tsé.Quando se aposentou , foi para o Tibet em busca de plantas medicinais , ficou tanto tempo desaparecido que na sua aldeia o deram como morto. Entretanto, na
primavera de 1931, com a idade de 135 anos , ele retornou ao seu distrito natal,
onde vários anciões o reconheceram.
Apesar dos cabelos brancos, não parecia ter mais de cinqüenta anos, e pouco
mudara em relação ao homem que eles havim conhecido".
As incontáveis sessões dedicadas à meditação os conduziram a formular a idéia de que, nessas árvores em miniaturas, se concentrava a força vital, a energia dos grandes bosques e que o pequeno tamanho era o que lhes prolongava a vida. Ainda mais, a pessoa capaz de garantir vida a essas plantas, em um espaço reduzido, possuía o poder de concentrar em seu corpo toda a energia da vida e os poderes mágicos que aquelas plantas guardavam e estendê-los aos seres humanos para assegurar a longevidade. Essas árvores modeladas nas inclemências do tempo receberam o nome de “p’en-tsai” (pun-sai). Para os chineses, a árvore era o vínculo que unia o céu e a terra, um veículo de pensamento, algo real e concreto que estimulava a meditação
durante os séculos XII e XIII, muitos monges se instalaram no Japão, levando consigo os “p’ent-sai” que possuíam um significado filosófico e religioso. Os japoneses, porém, entenderam o bonsai de outra maneira, converteu-se na expressão do homem como intérprete da Natureza e adquiriu a categoria de "Arte".
O entusiasmo que despertou foi tão grande que colecionar bonsai transformou-se no passatempo da aristocracia.
Em 1644, um funcionário chinês, Chun-sun-sui, cansado dos assuntos do Estado, instalou-se no Japão onde se dedicou ao cultivo da arte. A partir dos ensinamentos desse mestre chinês, os japoneses desenvolveram as técnicas de cultivo, criaram os estilos básicos, a terminologia adequada e difundiram o bonsai pelo mundo. Por esta razão, o Japão é considerado a pátria indiscutida do bonsai, esta prática que, em princípio, esteve reservada à nobreza, pouco a pouco foi acercando-se do povo e, atualmente, muitos japoneses dedicam grande parte de seu tempo livre ao cultivo do bonsai.
A história do bonsai no Brasil teve início a partir de 1908, com a chegada do navio "Kasato-Maru", no porto de Santos ,trazendo os primeiros imigrantes japoneses para o desenvolvimento nosso país.
Apesar de poucos dados existentes, sabe-se que os primeiros imigrantes japoneses, provavelmente tenham trazido consigo pertences de grande estima, coisas que os fizessem lembrar sua terra natal. Certamente os primeiros exemplares de bonsai aqui chegaram dessa maneira.

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