quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Bagda

Bagdá, a cidade que já foi Luz

Bagdá, a capital do Iraque, teve boa parte da sua infra-estrutura urbana destruída pelos bombardeios provocados pela aviação norte-americana durante a Guerra do Golfo, fato que a deixou isolada de quase todo o mundo.
No passado, porém, foi diferente. Construída pela fé islâmica, ela foi a primeira cidade planejada pela nova religião com a clara função de ser a catapulta para que a palavra do profeta Maomé fosse lançada para as terras da Índia e da Ásia.

O plano da nova Bagdá

Por volta do ano de 140 do calendário muçulmano (762 pelo calendário cristão), o califa Al-Mansur chamou dois renomados astrônomos, um persa e outro judeu, para que projetassem a nova capital do seu império. Ele era o segundo governante da recém-implantada dinastia dos abácidas que, em 750 d.C., depois de se revoltar contra o ramo omíada da família do profeta Maomé, havia manifestado a idéia de construir uma cidade que expressasse o vigor e a energia do islamismo renovado.
Em pouco tempo, apresentaram-lhe o projeto urbanístico. Tratava-se e uma urbanização circular cujas portas voltavam-se para os quatro cantos do mundo. O nome a ser dado era Madinat Al-Salãm, a Cidade da Paz, e seria construída onde outrora ficava a aldeia de Bagdá. Situada nas margens do Rio Tigre, justamente no momento em que este mais de aproxima do seu rio irmão, o Eufrates, a sua posição geográfica era exemplar, pois permitia-lhe o controle das férteis terras ribeirinhas, o domínio da desembocadura de ambos os rios, o canal de Chatt-el-Arab, bem como o porto de Bassora, a atual Basra, situada a 400 quilômetros mais baixo.

A antiga Bagdá

O deslocamento da capital do Império Árabe de Damasco para Bagdá em 762 d.C. não se devia apenas a terem os omíadas se tornado licenciosos e relapsos. Acontece que o movimento de expansão muçulmana para o Ocidente, depois de ter anexado as terras do norte da África e da Península Ibérica, foi detido por Carlos Martel, comandante franco, na batalha de Poitiers, em 732. Os mouros confinaram-se então nas terras espanholas, de onde só saíram depois de minguar lentamente, após 700 anos. Detidos no Ocidente, o impulso voltou-se naturalmente para a Ásia Central e o Oriente. Em pouco tempo, os califas de Bagdá adonaram-se do Golfo Pérsico e levaram a palavra do Corão para o Paquistão, Indonésia e Ilhas Filipinas, chegando até a estabelecer uma próspera colônia árabe na cidade chinesa de Cantão.
Sentindo a necessidade de enriquecer o Islã com a sabedoria de outras culturas, especialmente a persa e a grega, os califas de Bagdá transformaram a cidade num extraordinário centro cultural, numa verdadeira luz do Oriente. Em 832, Al-Mamum criou a Bayt al-Hikma, a Casa da Sabedoria, que, segundo nossos registros, deve ter sido uma das primeiras instituições especializadas em traduções. Foram convidados para tal ofício sábios de fé diversa da muçulmana, tal como o cristão-árabe Hunayn Ibn Ishãq, que formou uma verdadeira dinastia de tradutores, vertendo obras do grego para o siríaco e para o árabe.
Foi assim que preservaram-se os trabalhos de Aristóteles, de Platão, de Galeno, de Hipócrates, de Euclides ou ainda do Alexandrino Ptolomeu.... enquanto a cultura grega era anatematizada pelos padres da Igreja cristã medieval, era honrada e cultivada pelos homens sábios de Bagdá.

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