segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Minhas lembrancas

As lembranças vão e vem, assim como aquela visita que ameaça ir embora mas não vai...lembro-me que no domingo íamos almoçar na casa de meus avós (maternos) - minha mãe, meu pai, eu, minha irmã e o meu irmão.
Dia de domingo ,o almoço sempre era mais gostoso , tinha pastéis (a massa era feito em casa ,pela minha avó) ela sempre fazia de carne moída, e para nós -as crianças fazia de banana ,ou goiabada, desnecessário dizer que eram deliciosos. Os adultos tomavam vinho, e as crianças guaraná,refresco de groselha ou refresco de vinho, (misturava-se água da torneira ,vinho e açucar ). Minha avó durante muitos anos trabalhou como
cozinheira, e a sua comida era muito gostosa,sei que era também muito farta.
A comida ficava sempre em cima do fogão em banho-maria , ela dizia : "se alguém chegar a comida vai estar quentinha". Era só a minha avó e meu avó, mas as panelas que minha avó usava para cozinhar eram panelas grandes.
Meu avó (ele era o padrasto da minha mãe - chamava-se Manoel ,mas todos o conheciam como Nézinho). Ele sempre acordava ás 5 horas da manhã - impreterivélmente - fazia o café,ia pegar o pão na Padaria 'Mimosa' tomava o seu café ,pegava a caixa de fósforos e acendia o seu primeiro cigarro do dia , e durante todo o dia, ele não usava mais fósforos pois acendia um cigarro no outro.
Meu avô ,gostava de jogar: bisca, escopa,e quando não tinha parceiros nos deixava jogar com ele. Quando aparecia alguém levantávamos da mesa.
Nunca conheci ninguém mais íntegro ,honesto, caridoso. Quando fizemos a nossa
1ª comunhão ele estava lá, fora isso... não o via frequentando religião alguma ,mas trazia dentro de si ,as virtudes que todo cristão deveria trazer . Ele era aposentado da rede ferroviária ,era maquinista da Central do Brasil. Nos contava que quando entrou para a rede , era fogista - o trabalho de um foguista consistia em botar o carvão numa espécie de fornalha , depois subiu de posto e passou a maquinista, sei que amava o que fazia - conduzir uma Locomotiva.
Na minha infância ,o nosso país possuia uma grande malha ferroviária ,qualquer lugar ,a população ia de trem. (hoje seria impossível reconstruir esta malha ferroviária, em vários trechos,
a população invadiu e construiu as suas casas no leito da via férrea. Claro que não precisaria ter acabado com os trens de passageiros (hoje na sua maioria só vemos trens de carga).
Ele quando recebia o seu pagamento ,comprava uma carroça de gêneros alimentícios, mas quando digo carroça - era verdadeiramente uma carroça - (não é no sentido figurado) os sacos iam fechados , arroz , feijão, fubá ,farinha ,macarrão, banha de porco...ele sentava e ia distribuindo num 'balaio' os mantimentos .Para cada família que ele ajudava, algumas famílias ele levava na própria casa o balaio com os mantimentos.
Não tinha nem um pouco de vaidade, não ligava de andar com a camisa remendada,ou com os sapatos velhos. Lembro-me um dia ,quando a minha mãe comprou para ele uma camisa nova, na cor azul de mangas compridas. Era para comemorar o seu aniversário.
Meu avô, gostava muito de comemorar os nossos aniversários...o da minha avó, o dele e o meu. Talvez ,por ter nascido num dia de um santo que ele gostava muito, dia de São João, e desde a mais tenra idade ,eles levantavam soltando fogos.
Minha avó ,convidava as pessoas assim: Vá no dia tal...na minha casa vai ser aniversário da minha neta, vou matar 22 frangos, 1 leitoa, 2 cabritos, não sei ...quantos barris de choppe.
Os doces e o bolo eram feitos na casa da Dona Maria Almeida. (uma doceira da cidade de Três Rios ). Tinha sanfoneiro, barraquinhas de bambu, quadrilha,(dança típica junina ) Meu avó também gostava muito do Natal, ele fazia aniversário no dia 23 de dezembro,nasceu em 1900.
Dormia cedo , gostava de ouvir os programas da Rádio Nacional ,naquela época as novelas eram radiofônicas - tinha novelas ,e duas em particular , ele era fã:
"O Anjo" e "Jerônimo o herói do sertão" , primeiro ouvia o anjo,depois vinha o Jerônimo e logo após vinha a Voz do Brasil - começavam as 18:00 horas e terminavam as 20:00 horas. Dali ele já não levantava mais ,dormia sempre ao mesmo horário e se levantava no mesmo horário também.
Até, hoje - eu me lembro do meu avô.

Á sua benção.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que texto mais gostoso! Parece que as lembranças são minhas!

Um abraço
Diogo
www.matandorobosgigantes.blogspot.com